Empresas de calçados podem reduzir em mais de 57% as etapas de fabricação de um calçado com novo modelo de processo de cabedal sustentável e ainda economizar em navalhas; água; energia elétrica; suprimentos; matérias-primas, além de reduzir a emissão de gases ligados ao efeito estufa e processos administrativos, operacionais e produtivos. A novidade está sendo divulgada pelo Grupo JR Soluções, empresa de soluções em tecidos e matérias-primas que há mais de três décadas atende aos mercados calçadista e têxtil, com suas unidades em Birigui (SP) e Sapiranga (RS) e as marcas JClass e JR Dublagens.
O novo processo, sugerido pela marca, chama-se Cabedal Corte Único (CCU), criado para o projeto Fechando o Ciclo. Sabe-se que um sapato é divido em duas partes – o cabedal e o solado –, e cada um passa por um processo de fabricação. A proposta do CCU é reduzir as etapas de confecção convencional e a do Fechando o Ciclo é utilizar um cabedal que seja reaproveitado futuramente para a produção de um novo sapato 100% reciclável, fomentando a economia circular e as práticas de ESG nas fabricantes calçadistas.
Ou seja, ao invés do produto pós-consumo ter como destino um aterro sanitário ou lugar impróprio na natureza, ele será devolvido pelo consumidor à fabricante, que repassará o produto para a JR. Com a Central de Reciclagem própria, a JR reciclará o calçado e o transformará em polímeros para serem usados na fabricação de um novo calçado. Dessa forma, ‘fecha-se o ciclo’ da logística reversa de um calçado 100% reciclável que muitas empresas calçadistas não conseguiram fechar até hoje.
De acordo com reportagem da Agência Brasil, o país recicla apenas 4% dos seus resíduos sólidos, enquanto que países como a Alemanha, o índice chega a 67%, conforme dados da International Solid Waste Association (ISWA). Chile, Argentina, África do Sul e Turquia atingem a média de 16% de reciclagem. A perda econômica é bem significativa para o Brasil. Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), em levantamento feito em 2019, o país perdeu cerca de R$ 14 bilhões anualmente em resíduos que poderiam ter sidos reciclados e gerar receita e renda para as famílias que trabalham com essa atividade.
TECIDOS SUSTENTÁVEIS
No projeto Fechando o Ciclo – criado em 2012, colocado em prática desde 2018 e lançado no mercado esse ano -, foi utilizada como parâmetro a confecção de uma sapatilha feminina pelo método CCU. Com o uso de tecidos sustentáveis e o processo de CCU, as etapas de fabricação foram reduzidas de 14 para seis, o que representa uma redução aproximadamente de 57% do modelo tradicional aplicado pelas indústrias calçadistas brasileiras.
De acordo com os resultados do Fechando o Ciclo, 1.000 metros quadrados da palmilha reciclável, que substituem as de celulose, pode-se salvar 15 árvores. E para cada 1.000 metros quadrados dessa mesma palmilha poderão ser utilizados entre 300 a 500 pares de sapatilhas pós-uso, transformando-as em produtos de alto valor agregado, gerando emprego e renda em diversas esferas do setor.
Além disso, o preço de tecidos recicláveis não chega a 20% mais que os tradicionais, que não são reciclados. Inicialmente, dois tipos de tecidos recicláveis são aplicados no Fechando o Ciclo, o Lona Pet e o Ecofit. O primeiro é produzido 100% com fios de poliéster reciclado de garrafas PET, utilizado como cabedal de calçados e fabricação de bolsas e acessórios, e o segundo são compostos por 90% de poliéster reciclado de garrafas PET e 10% elastano, para ser aplicado em todos os tipos de calçados, como cabedal ou forração.
TENDÊNCIAS
De acordo com a gerente de Marketing da JR, Kátia Possari, geralmente, os artigos sustentáveis confeccionados com materiais recicláveis tem um paradigma negativo de resultarem em itens não bonitos nem atrativos no design. “Por isso, sempre pensamos em um design diferente, principalmente, em tecidos e estamparias, para que esse produto não resulte em um tecido com características de sustentabilidade. Aliamos o que está vindo de tendência para aquele momento e fazemos a união com os tecidos sustentáveis para propor algo bacana e com design diferenciado para o cliente. As grandes marcas procuram hoje produtos sustentáveis, mas sem terem a cara de sustentável”, destaca a gerente.